terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Talvez num tempo da delicadeza...

Foi sobre delicadeza que fui convidada a refletir. Eu me convidei, a análise me conduziu. E tenho falado de convites irrecusáveis desde que decidi que era hora de traçar eu mesma o meu caminho.
Há quase uma semana, sempre penso objetivamente no termo delicadeza. E toda essa elaboração tem sido conduzida exatamente para os caminhos nos quais essa capa só me protegeu de ter contato com tantas indelicadezas do que mora em mim e do que vive do lado de fora. Recordar, repetir e elaborar. Recordar, repetir e elaborar pra depois fazer tudo desaparecer... porque é insuportável e eu preciso seguir com a vida. Porque o acting-out me ronda quando as narinas do dragão soltam fumaça avisando que esse ser apavorante está despertando.

"Onde não diremos nada;
Nada aconteceu.
Apenas seguirei
Como encantado ao lado teu."

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Um encontro com Lacan

 
"Um dia quis interromper minha própria análise e perguntei à Lacan:
- Por que é tão difícil analisar o inconsciente?
 O que me lembro da resposta eu resumiria assim:
- A verdade é sempre difícil de suportar e a psicanálise acaba por mostrar a nós mesmos o que preferiríamos ignorar. Quanto mais nos aproximamos da verdade da nossa história, mais temos vontade de lhe dar as costas.
Foi por isso, ele me explicou, que sempre desencorajou os que o procuravam apenas "para se conhecer melhor". Isso não basta. É preciso que alguma coisa falte, desequilibre e intrigue para prosseguir com as sessões. É preciso desejar que algo crucial mude na existência. É por isso, também que Lacan não fazia papel de hipócrita. Mas também é porque ele estava do lado da verdade e não dos fingimentos da complacência que ele demosntrava uma humanidade que não era de fachada."
Gerard Miller - Um encontro com Lacan.
 
 

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Veredas, veredas

Poderia ser mais uma nuvem, mas não é. É mudança de tempo e minha mudança diante do tempo.
Falando nele, o tempo, suas marcas incidem sobre mim com uma velocidade inacreditável. E não é só do corpo e de suas transformações que falo. Me refiro também a cada sinal inscrito em mim pela vida e suas dores, alegrias, perdas, desejos. Desejo. Esse estranho íntimo com quem me deito e que me faz levantar. E se um dia são lágrimas, no outro a aridez domina, e a sede por ela provocada me tira a força de buscar com que mitigá-la. São livros dispostos sobre uma mesa esperando serem lidos, é a noite lá fora me convidando a contemplá-la. E sempre o lado de dentro me lançando convites pra que me volte para ele e confronte esse universo tão amedrontador (e tão libertador) chamado inconsciente.

quinta-feira, 6 de junho de 2013

Sempre mais do mesmo?

Seria então catarse reviver o acontecimento traumático?
Ou uma puta sacanagem?
Ou um puta comodismo meu, que não rompo com o desconforto dessa zona de conforto?
Fica a reflexão!

domingo, 31 de março de 2013

Ensaio de um ensaio psicanalítico (ou análise de mim mesma)

Pois... a questão é que varro para debaixo do tapete a poeira dos acontecimentos. Porque seguir em frente requer habilidades que não manejo tão bem com esse meu jeito canhoto atrapalhado de ser. Então pra debaixo do tapete vão muitos problemas... daqueles que mereceriam atenção, mas atrasariam todo o serviço se me dedicasse a tais tarefas. Vão também alguns desejos. Incompatíveis com o momento. Ponto.
Esse tapete talvez seja daqueles que flutuam, dos quais só se ouve falar nas estórias infantis, tenho quase certeza. Debaixo dele cabe tanta coisa que me assusto quando me permito olhar pra avaliar se vou ter tempo de cuidar dele. O problema é o tempo passando... e há muitas coisas vivas debaixo do tapete. Respiram com dificuldade, precisam de espaço, precisam de cuidado. Tem coisas que eu decidi "guardar" lá pra depois decidir o que fazer. Percebi, da última vez que conferi, que algumas até se fossilizaram na espera... e eu as guardei por ter a intenção de cuidar, por amar de alguma forma avessa, pela boa e velha mania de reter.
 E hoje tanta coisa é carne morta.
Tem afetos debaixo do tapete. Tem aquelas dores que sempre incomodam e a gente finge que não existem pra não interromperem a caminhada, mas com o tempo vão se tornando mais e mais evidentes ao alterar lentamente a nossa marcha. Tem o que não sei, tem o que não quero, tem o que não posso. Tem o que me amedronta e me tira o sono. E é essa última categoria que me tira da cama que só agora me parece tão desconfortável e me faz tentar organizar alguma coisa em mim pra que essa vida paralela que existe debaixo do tapete vá saindo de lá aos poucos. Pensar na vida que existe ali me causa variados tipos de terror e aflição, experimentados em intensidades diferentes. Mas o tapete está puindo, já não consigo esconder tanta coisa. As vezes imagens oníricas distorcem o que está lá "guardado" de forma tão aparentemente segura, que me roubam o fôlego e me causam a mais incômoda angústia. É o que está acontecendo. Saíram de lá frases soltas, sonhos estranhos com as imagens (e os sentidos) mais apavorantes e parecem me perseguir por onde quer que ande, para onde que que me esconda.
Sim, esses confrontos eventualmente acontecem e constantemente me roubam o chão. Sim, esses confrontos doem, as vezes sangram e sempre transformam. Sim, esses confrontos me tornam quem sou (ou serei?).

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Ah, se tu soubesses...

... que a diferença entre nós consiste no que cada um julga necessário fazer e falar. E, da minha parte, tentar provocar insegurança em alguém com um "ingênuo" comentário sobre algum personagem secundário de um passado de mágoas, só serve pra que eu perceba que tens necessidade de causar determinadas sensações para que sinta-se possuindo algum poder sobre mim.
Ah, que pena sinto de você nessas horas!

domingo, 28 de outubro de 2012

...fomos donos do que hoje não há mais

E todas as metáforas que procuro, como encontrar deserto onde um dia foi fonte, já não dão conta de descrever essa aridez sem tamanho.

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Agora, por celular:

"Acho que juízo não nos faz muito felizes".

É.

Peço, por gentileza!

Prezada Hilda Hilst, sei que a senhora já morreu, embora pareça eterna quando te leio... mas peço-lhe a gentileza de parar de roubar minha vida e escrever sobre meus desejos em seus poemas. Sobretudo aqueles do livro Do Desejo, que há tantos anos perdi. Fineza parar de acordar as inquietudes da minha alma, levantar a poeira que escondo atrás das cortinas e me fazer querer ser menos racional. Se não for pedir demais, arruma um poeminha que faça com que tudo pareça fácil, perfeito e adormeça esse monstro desperto que me ameaça a vida.


"Se eu disser que vi um pássaro
Sobre o teu sexo, deverias crer?
E se não for verdade, em nada mudará o Universo.
Se eu disser que o desejo é Eternidade
Porque o instante arde interminável
Deverias crer? E se não for verdade
Tantos o disseram que talvez possa ser.

No desejo nos vêm sofomanias, adornos
Impudência, pejo. E agora digo que há um pássaro
Voando sobre o Tejo. Por que não posso 
Pontilhar de inocência e poesia
Ossos, sangue, carne, o agora
E tudo isso em nós que se fará disforme?"

UPDATE: Já pode morrer depois de ter encontrado esse vídeo?
http://www.youtube.com/watch?v=85Bt6AprKlA

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Ismália Enlouqueceu

ps do post anterior: contemplar meus abismos não quer dizer que ando numa "vibe" Ismália, ok?
Vamos considerar que trabalhamos com metáforas.

Força, Fé e Foco

Eis que na semana passada fui presenteada com um textinho que falava dessas três palavras: FORÇA, FÉ e FOCO. Chegou na hora certa, e como quem precisa se segurar em arbustos na beira de um penhasco absorvi tais palavras como quem assimila, incorpora e evoca um mantra. Força, fé e foco, força, fé e foco, forçaféefoco... Sim. Isso segurou minha onda esses dias. Bastava evocar as palavrinhas e eu já estava lá, visualizando o objetivo, olhando pra frente pra não perder o foco, rogando à Deus pra não perder a fé. Mas a vida adora brincar de roda-viva, ficar mimetizando letra de Chico Buarque e lá se foi meu foco. Lá se foi a minha força. Lá se foi a minha fé. " A gente vai contra a corrente até não poder resistir, na volta do barco é que sente o quanto deixou de cumprir". E eu fico aqui me perguntando o porquê dessa sensação de derrota, de não dar conta, de não conseguir caber nos moldes que eu mesma ando desenhando. Vivo tentando bancar Deus, sem perder essa mania de tentar salvar tudo e todos que aparecem em minha frente, sem sequer indagar quem quer e quem PRECISA ser salvo. Uma necessidade imbecil de ser necessária. Uma mania idiota de querer cuidar. Amélie Poulain da vida real deve ser uma histérica. Não tem romantismo, não é bonitinho querer consertar a vida alheia para não olhar pros meus próprios naufrágios, pra meu barco a deriva com uma tripulação sedenta diante de tanto mar.
Falando em Amélie, em 11 de novembro de 2010 postei o seguinte diálogo:
- Pintor: "Ela prefere imaginar uma relação com alguém ausente do que criar laços com aqueles que estão presentes." 
- Amelie: "Hummm, pelo contrário. Talvez faça de tudo para arrumar a vida dos outros." 
- Pintor: "E ela? E as suas desordens? Quem vai pôr em ordem?"
E hoje isso faz ainda mais sentido pra mim.
Não estou conseguindo arrumar a minha bagunça, os armários estão revirados e os cantos das janelas ostentam teias. Eu quero, sim, a FORÇA, a FÉ e o FOCO de que falava o texto partilhado por alguém a quem devoto imenso amor. Mas quero que eles sejam legítimos, genuínos e não uma desculpa pra não olhar pros abismos na estrada. Eu quero a força que me sustenta, a fé que me ampara e o foco que me faz seguir adiante sem temor. Preciso disso pra contemplar meus abismos... e eu PRECISO contemplar meus abismos de tempos em tempos pra não esquecer que a vastidão já me levou por vários caminhos, mas eu sempre tenho pra onde voltar.



quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Saga

Andei depressa para não rever meus passos
Por uma noite tão fugaz que eu nem senti
Tão lancinante, que ao olhar pra trás agora
Só me restam devaneios do que um dia eu vivi
Se eu soubesse que o amor é coisa aguda
Que tão brutal percorre início, meio e fim
Destrincha a alma, corta fundo na espinha
Inebria a garganta, fere a quem quiser ferir
Enquanto andava, maldizendo a poesia
Eu contei a história minha pr´uma noite que rompeu
Virou do avesso, e ao chegar a luz do dia
Tropecei em mais um verso sobre o que o tempo esqueceu
E nessa Saga venho com pedras e brasa
Venho com força, mas sem nunca me esquecer
Que era fácil se perder por entre sonhos
E deixar o coração sangrando até enlouquecer
E era de gozo, uma mentira, uma bobagem
Senti meu peito, atingido, se inflamar
E fui gostando do sabor daquela coisa
Viciando em cada verso que o amor veio trovar
Mas, de repente, uma farpa meio intrusa
Veio cegar minha emoção de suspirar
Se eu soubesse que o amor é coisa assim
Não pegava, não bebia, não deixava embebedar
E agora andando, encharcado de estrelas
Eu cantei a noite inteira pro meu peito sossegar
Me fiz tão forte quanto o escuro do infinito
E tão frágil quanto o brilho da manhã que eu vi chegar
E nessa Saga venho com pedras e brasa
Venho sorrindo, mas sem nunca me esquecer
Que era fácil se perder por entre sonhos
E deixar o coração sangrando até enlouquecer"
Viciada em Filipe Catto!

Se é bagunça...

Se é bagunça...

... podes crer que lá está meu coração!

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

sei lá, já fui mais de mil...

Conferindo posts antigos depois de lembrar que tenho blogs. Evocando cada sensação de quando aquelas palavras viraram textos, de quando elas passaram a ser emoções compartilhadas.
Blogueira e desistente de blogs desde 2003, com o Sol de Primavera, que se tornou eclipse eterno quando decidi que tudo aquilo só deveria morar em minhas lembranças e o apaguei. De vez em quando sinto saudadinha de reler algumas coisas, como o post que falava da solidão da 'elefanta' de circo e o menino de rua, ou dos comentários carinhosos que recebi por todos aqueles anos. Mas não, aquela não era mais eu... ou pelo menos era uma eu que não queria mais se mostrar. A eu que se mostra hoje está nas redes sociais, brincando com os irmãos e amigos, postando piadinhas internas e músicas que me tocam... e essa eu se mostra muito menos, mesmo que se exiba pra 410 "amigos". A eu que não se mostra está cada vez mais escondida, apesar da casca melhorada, da polidez, da aparente amabilidade. Essa que sou hoje busca um silencioso equilíbrio e se pergunta coisas cujas respostas já sabe, mas anseia por um milagre que as mude. A eu de hoje continua criando enigmas que nem são tão difíceis assim de decifrar, mas tenho medo de, mesmo decifrando-os, ser devorada.

terça-feira, 7 de junho de 2011

Era a mim que eu tentava salvar?

Não sei qual foi o dia em que decidi que me tornaria alguém melhor se resolvesse defender uma causa. Na verdade nem sei se isso de fato aconteceu ou se minha natureza de "cuidadora dos problemas do mundo" me trouxe até aqui. O fato é que sempre me coloquei mais no lugar dos bichos do que das pessoas. Lembro de minha crise de choro, ainda criança, no parque de exposições porque um cavalo estava preso. Lembro da dor que senti vendo minha cadelinha Tigresa morrendo atropelada enquanto eu ia para a escola. E eles sempre rodearam minha vida. Escopeta é o meu melhor amigo, deitava com as patinhas no quaixo e só levantava quando eu parava de chorar, como se fosse sua obrigação velar pelas minhas tristezas. Fui embora de casa e achei que meu ritmo de vida muito corrido não era compatível com um bicho de estimação. E veio PeRcoço me mostrar que são eles quem nos escolhem. Meu Perquinho foi e voltar pra casa sem encontrá-lo se tornou uma tortura. Até que chegou Lana. Até que chegou Clark. Até que chegou Júnior e vieram as RESgatinhas, Pitty, Chloe e Lara. Minha casa ficou cheia de gatos e meu coração também. Na casa não há mais vagas, mas o coração ainda fica me armando ciladas. A siamesa que ficou 24 horas aqui e se sentia dona da casa foi acolhida em umlar cheio de amor e hoje mora no tal 'céu dos gatos'. Desde anteontem, porém, me vejo às voltas com "Sassá" (assim a chamei, por estar cheia de sarna), que estava na chuva, com fome e toda debilitadinha. Prontamente fiz contatos, e consegui uma vaguinha pra lea numa fundação que acolhe os animais oara adoção depois. Peguei-a na rua, alimentei, fiz carinho naquelarouquinha linda e tão carinhosa, mesmo sabendo que ela dormiria aqui s´ó por uma noite, me rendi aos seus encantos. Então o dia de hoje chegou. Levei-a para o abrigo e ela cheia de medo, passou a dividir gaiolas com um tantão de gatos tão ou mais carentes que ela.
Saí de lá despedaçada!
Aquele olhar assustado, todos aqueles bichinhos de olhar triste, uns se pendurando nas grades buscando um pouquinho de carinho. Outros, como ela, se retraindo num canto. Nem sei descrever o quanto doeu, o quanto ainda me dói. O quão impotente me sinto, o quanto me questiono. Ela vivia na rua, passava fome, mas era livre. Se tivesse sorte, arrumava uns punhadinhos de ração. Se a sorte lhe abandonasse completamente, morreria de fome, fraqueza ou algum mau-trato atroz de gente sem alma. Hoje eu ajudei a selar a incerteza de seu destino. Sassá não deverá morrer de fome, mas nem sei se vai ser mesmo tratada daquela sarna. Mas ela esperará ávidamente pelo carinho e cuidado que teve nessa noite que passou aqui e talvez não tenha. Saí de lá segurando as lágrimas (que agora não param de cair), porque ao invés daquele motorzinho que ouvi todas as vezes que chegava perto, escutei o grunhido assustado de medo dos outros gatos, de estar numa gaiola fria esperando que alguém descubra os encantos escondidos debaixo daquela couraça que a rua criou. Sassá será um dia adotada? A quem foi mesmo que eu tentei salvar?

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Lembretes de madrinha

Bruninha, minha afilhada linda!
Se eu puder te ensinar algo, vou querer que você aprenda que a busca pela felicidade não termina nunca, mas pra que o caminho seja leve, a equação exata é tentar não machucar ninguém, desde que não machuque a você mesma. Quero que você aprenda também que se colocar no lugar de outra pessoa em geral ajuda a errar menos com ela. Quero que aprenda o quanto é lindo ser e sentir sem ficar se perguntando o que vão pensar, mas se perguntar sempre o que você mesma vai pensar e sentir com os resultados de suas atitudes. Que você não esqueça nunca que amor se constrói com respeito e admiração, mas que de nada valem se você não tiver respeito e admiração por si própria.
Amo muito você,
Sua dinda!